26.4.11

CONFLITOS CONJUGAIS: APRENDER A LIDAR COM ELES

Autor: Pr. Marcelo Rodrigues de Aguiar (*)


Algo inerente a todo e qualquer relacionamento é a existência de conflitos. As pessoas são diferentes, e é natural que tenham suas diferenças. Além disso, quanto mais intenso e íntimo for um relacionamento, maior será a probabilidade de discordâncias.
A Bíblia conta a história de muitos casais que viveram conflitos. Ainda no paraíso, Adão e Eva tiveram seu relacionamento abalado em conseqüência do pecado que cometeram. Lemos também que Abraão e Sara se desentenderam, que Jó e sua mulher trocaram palavras ásperas, e que Maria e José quase se separaram. De fato, mesmo servos fiéis de Deus podem enfrentar dificuldades em seu matrimônio.
POR QUE OCORREM CONFLITOS CONJUGAIS?
O psicólogo e conselheiro cristão Gary Collins afirma que as principais causas dos problemas conjugais são: falhas na comunicação, excesso de dependência ou independência, tensão interpessoal (em áreas como sexo, finanças, religião e valores), pressões externas e tédio. Os desdobramentos desses problemas podem ser: confusão, desespero, desânimo, afastamento, abandono, separação e divórcio 1.
Quando um casal percebe que os conflitos estão se multiplicando em seu relacionamento, o que devem fazer? Antes de tudo, é fundamental que preservem a esperança. Invariavelmente o pessimismo leva à amargura, ao distanciamento e a ações precipitadas. Jamais deveríamos duvidar do poder de Deus para reverter situações desfavoráveis. Não há casamento tão ruim que o Senhor não possa melhorar, assim como não há casamento tão bom que ele não precise melhorar.
O passo seguinte será avaliarmos a nossa própria parcela de responsabilidade na geração e manutenção dos conflitos. O mais comum é que enxerguemos as atitudes e características de nosso cônjuge que – segundo pensamos – são as causas de nossos desentendimentos. Todavia, isso não é nada produtivo.
A maioria dos casais está fortemente engajada na tarefa de tentar mudar um ao outro. As pessoas identificam coisas relacionadas ao parceiro que estariam levando à infelicidade conjugal e, daí para frente, passam a lutar para transformá-las. O problema é que, previsivelmente, o cônjuge tem uma opinião diferente… e assim, as solicitações de mudança acabam levando à resistência e às brigas, e não à harmonia.

COMO OS CONFLITOS CONJUGAIS PODEM SER SUPERADOS?
A Oração da Serenidade, com a qual os Alcoólicos Anônimos iniciam todas as suas reuniões, diz: “Senhor, dá-me serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, coragem para mudar aquilo que posso mudar, e sabedoria para saber a diferença”. Também na resolução de conflitos conjugais este é um bom ponto de partida. Isso porque, em todo e qualquer relacionamento, existirão coisas que poderemos e não poderemos mudar.
Aceitação e mudança são as chaves para aprendermos a lidar com os conflitos conjugais. O fato é que os casais em crise tendem a focalizar quase exclusivamente os aspectos negativos do comportamento um do outro. Para agravar essa situação, a manutenção dos aspectos desagradáveis é interpretada como má-vontade ou falta de amor. Isso leva ao distanciamento físico e emocional.

ESTRATÉGIAS DE ACEITAÇÃO
Como posso aceitar algo de que não gosto em meu cônjuge? Primeiramente, lembrando-me que as diferenças são inevitáveis. Mais do que isso: elas são indispensáveis. São as diferenças de sexo e de personalidade que proporcionam o equilíbrio conjugal. Se esse equilíbrio não existisse, poderiam surgir problemas ainda maiores do que aqueles que o casal está enfrentando. Compreender isso faz-nos enxergar uma aparente desvantagem como uma vantagem. Os opostos se atraem, e, mais do que isso, se complementam.
Outra maneira de lidar com os aspectos negativos do comportamento de nosso cônjuge é procurar entender a motivação positiva que se esconde por trás deles. Muitas vezes o que mais nos incomoda não é o que o outro faz, mas a intenção com que – pensamos nós – ele o faz. Por exemplo: uma esposa pode ressentir-se do aparente desinteresse de seu marido, quando este não lhe pergunta onde está indo ou com quem está saindo. Mas se ela puder compreender que esta aparente falta de cuidado é, na verdade, a maneira que ele tem de expressar sua confiança e respeito, isso a incomodará em um grau menor. Ela lidará com a situação de um modo mais efetivo do que o faria pensando que ele, simplesmente, a ignorava.

ESTRATÉGIAS DE MUDANÇA
Além de trabalhar a aceitação, o casal deve, também, considerar possíveis mudanças em sua maneira de tratar um ao outro. Acusações e cobranças geralmente não produzem bons resultados. Cedo ou tarde, marido e mulher aprendem essa lição na prática. Entretanto, se ambos puderem, simplesmente, abrir o coração e comunicar suas necessidades, os espíritos se desarmarão, e as transformações serão possíveis.
Uma boa idéia é fazer com que cada um formule uma lista de iniciativas que, ao seu ver, poderiam deixar o parceiro feliz. Em seguida, cada cônjuge tem a oportunidade de selecionar dois ou três itens da lista que considera de sua preferência. A partir daí, cada um assume o compromisso de tentar cumprir as sugestões que deu e que o outro selecionou. Como a proposta de mudança partiu da própria pessoa – e não de um esposo ou esposa insatisfeito – a probabilidade de que ela seja efetuada é muito maior.
Embora aceitação e mudança sempre devam ser levadas em conta pelos casais em crise, será o momento particular que o relacionamento atravessa que indicará qual das duas ênfases deve ser privilegiada. Segundo o psicólogo David H. Barlow, crises mais leves indicam que o casal se beneficiará bastante se empregar, desde o início, estratégias de mudança. Por outro lado, casais em crise mais grave provavelmente obterão maiores avanços se enfatizarem, inicialmente, a aceitação 2.

CONCLUSÃO
Dificuldades de relacionamento sempre representam um desafio. No relacionamento conjugal, isso se revela particularmente verdadeiro. É triste ver como a comunicação defeituosa e a desavença improdutiva podem levar duas pessoas que se amam a causar, uma na outra, mais sofrimento do que alegria. Contudo, as crises conjugais existem, também, para que aprendamos com elas. Ao atravessá-las, podemos nos transformar em melhores serem humanos.
O Senhor deseja que os casamentos sejam felizes, numa bela ilustração do compromisso que existe entre Cristo e sua igreja. Ainda que, para alguns, este ideal divino de matrimônio possa parecer distante, a fé, a esperança e o amor têm se mostrado aliados poderosos na superação de dificuldades, tanto quanto na construção de relacionamentos gratificantes.
1. Gary Collins. Aconselhamento cristão: edição século 21. São Paulo, Vida Nova, 2004. P. 478.
2. David H. Barlow. Manual clínico dos transtornos psicológicos. 2ª ed. Porto Alegre, Artmed, 1999. P. 541.

(*) Pr Marcelo Rodrigues de Aguiar é pastor Interino da Igreja Batista em Mata da Praia, professor do SETEBES – Seminário Teológico Batista do Estados do Espírito Santo, bacharel em Teologia e Psicologia, Psicólogo clínico e escritor

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