13.5.11

HONESTAMENTE FALANDO

Certa vez ouvi de um ex-alcoólatra que havia deixado o álcool há mais de 45 anos e que ainda frequentava os Alcoólicos Anônimos semanalmente, que toda vez que ia a uma reunião, apresentava-se dizendo: sou alcoólatra e fazem 45 anos que não bebo. Segundo ele, foi desta forma que conseguiu libertar-se do vício e permanecer fora dele todos aqueles anos.

Em qualquer programa de tratamento para recuperação de dependentes de qualquer vício, a honestidade é um fator fundamental. Sem ela, o sucesso do melhor programa ficará comprometido. Todavia, a atitude mais comum de todos os viciados é negar sua dependência.

Da mesma forma que um alcoólatra nega que tem problemas com a bebida, muitos de nós também mentimos. Nos enganamos por tanto tempo que a desonestidade acaba se transformando num jeito de ser, num caminho necessário para a sobrevivência.  Imaginamos que ninguém suspeita do que de fato somos e, no aperfeiçoamento da arte de representar, vamos cultivando a aparência e o auto-engano, construindo a história pessoal sob o alicerce de uma falsa identidade.

Não é fácil ser honesto. Eu ainda não encontrei um caminho simples para viver honestamente. Desde a minha infância luto contra uma droga: aprovação. Em minha jornada de vida sempre busquei afirmação, atenção, reconhecimento numa forma de compensar as deficiências emocionais do meu passado. O que os outros pensam de mim tornou-se mais importante do que aquilo que de fato sou.

A desonestidade conspira contra a integridade, a espiritualidade, a transformação do caráter, e acaba comprometendo a verdadeira identidade. Ao me preocupar mais com a aparência, permito que um ser falso, impostor, estabeleça outros fundamentos para meus relacionamentos, seja com Deus, com meu próximo ou mesmo comigo. O medo do julgamento dos outros, os riscos da rejeição, a falsa sensação de aceitação, alimentam a desonestidade e intensificam a falsa identidade.

Sabemos que a negação ou a repressão daquilo que somos não apenas cria falsos relacionamentos entre nós, mas sobretudo entre nós e Deus. Presumimos que Deus, da mesma forma que as pessoas, não saberá lidar com nossos corações e mentes divididos, com a forma como transitamos entre a carne e o espírito. Seria Deus capaz de enfrentar meus desejos sexuais confusos e desordenados? Minhas oscilações entre a bondade e a maldade? A vontade de ser compassivo e outras vezes vingativo?  Minha espiritualidade e a queda pela pornografia? Minha aparente mansidão e minha índole violenta? Podemos até crer que Deus pode enfrentar e transformar estas realidades, mas enquanto não formos honestos com elas, não reconhecermos a dependência que temos delas, dificilmente experimentaremos seu toque libertador e transformador.

A oração é o caminho onde damos os primeiros passos da honestidade. Por saber que Deus me ama incondicionalmente, que me perdoa e aceita como seu filho, que conhece tudo o que sou e diante de quem não tenho como maquiar as mazelas da minha alma; descubro que é somente na presença daquele que me acolhe em amor, pela mediação do seu Filho e no poder do Espírito Santo, que abro as portas dos quartos mais escuros da minha alma e encontro minha liberdade e dignidade. No entanto, não basta ser honesto apenas com Deus, precisamos também ser honestos com nossa família, comunidade e amigos.

A coragem do ex-alcoólatra do início deste artigo precisa ser também a nossa. É comum encontrarmos em nossas igrejas muita gente secretamente honesta. Outros são muito honestos, chegam até a se orgulharem disto, mas são honestos apenas para falarem dos outros. Alguns chamam isso de “profecia”, mas são “profetas” que se dedicam a revelar os segredos dos outros, nunca os seus; conhecem bem as fraquezas e pecados dos outros, mas jamais permitem que conheçam os seus pecados e fraquezas. Sou um pecador, há 50 anos tenho pecado contra Deus, mas pela sua misericórdia, sigo no caminho da santidade.

REV. Ricardo Barbosa.

Um comentário:

Pr. Gilmar Nery disse...

Querido Irmão, Graça y Paz...
Esse texto gerou um soprar, um fluir de um legitimo oxigênio que eleva a alma, porque renova uma das perspectivas mais importantes da existência humana, a honestidade. Fiquei muito feliz por ter encontrado a sua página e esse texto, ele é aquilo,"creio", q muitos gostariam de falar, de dizer... vc disse... estamos juntos nisto em gênero, número e grau.

Pr. Gilmar Nery

gnerysales.blogspot.com

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