17.1.13

A FRAGILIDADE DA AMIZADE

Aelred de Rievaulx parafraseou 1.Jo 4.16 - " Deus é amizade e todo aquele que permanece na amizade, permanece em Deus". Nossa sociedade utilitarista dificulta as amizades. Ela nos convida a nos tornarmos (no dizer de Ricardo Barbosa) " prostitutos relacionais", fazemos amigos afim de... Usamos a amizade como fonte relacional - evangelismo por amizade. O problema é o que dizer se o "amigo" não se converte.

Na verdade não fazemos uma amizade em troca de nada. O psiquiatra R. D. Laing expressou: " Estamos nos destruindo a nós mesmos de forma eficaz por meio de uma violência que se mascara de amor..., não admira que o homem moderno seja viciado em pessoas; e quanto mais viciado fica, menos satisfeito fica, e mais solitário fica". A conclusão mais importante desta patologia é que os relacionamentos humanos existem somente para servir-nos. Quando vem os conflitos, a decepção, a desconfiança, não reparamos nem tratamos, ao invés, descartamos nossos semelhantes, como fazemos com uma ventoinha ou maquina de barbear de fabrico chinês.

A amizade perdida, que deveríamos resgatar por que somos crentes, tem que se basear na aceitação e isso envolve dor e misericórdia, aquilo que Jesus reivindicou como base do amor “Misericórdia quero e não sacrifícios”. Aquilo que devemos buscar segundo o Senhor Jesus, como substâncias para a construção de relacionamentos perfeitos, são o perdão e aceitação. O nosso Senhor deu-nos um exemplo disso quando galgou de uma relação de obrigações e interesse para uma relação pura de amizade. “Já não vos chamo servos, mas amigos”. O Senhor não esperava fidelidade no jardim ou no pátio, a sua confiança não estava nos seus amigos, mas, no Pai. Por isso Jesus nunca se decepciona!

Uma das razões da vulnerabilidade e fragilidade de nossas amizades é que no contexto da igreja passamos pouco tempo juntos - já pouco nos encontramos na semana e quando nos encontramos, ficamos sem saber o que dizer, fazer e pensar - parecemos pequenos robôs, cronometrados, tecnológicos e superficiais - perdemos o sentido da beleza do outro...

"Uma das grandes perdas que temos sofrido com a alta tecnologia da sociedade pós-moderna e a obsessão pelo sucesso é a da percepção da beleza. Valorizamos cada vez mais a eficiência e cada vez menos a arte. Preferimos o fast food, e não mais saborear uma boa refeição. Substituímos o real e o natural pelo virtual e pelo plástico. Vivemos como um turista que leva nas viagens suas câmeras e filmadoras digitais para não perder tempo contemplando a beleza da arte ou da criação. A aparência nos impressiona mais do que a realidade. Dentro de nossas igrejas, o efeito da mentalidade tecnológica é sutil e devastador. Imaginamos que se temos uma boa liturgia, boa música e coreografia, teremos um bom louvor e uma boa adoração. Se temos um programa eficiente, teremos um bom e fiel ministério. Se temos um bom sistema de integração de visitantes, teremos uma boa comunhão. A tecnologia nos afasta do belo e o reduz a um programa que nos ilude e nos leva a pensar que a beleza está na eficiência do produto e não mais no olhar, no gesto de fé e coragem, na criatividade ou num simples sorriso".

Não admira que sejamos mais tarde ou mais cedo surpreendidos pela desilusão, pela percepção doentia que temos de outras pessoas - não restando mais nada a não ser que nos afastarmos. Perdemos a beleza da amizade sacrificial.

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